A festa do Carnaval (Entrudo) remonta à Idade Média e foi sempre marcada pela subversão da ordem estabelecida. Nos dias do Entrudo, o "mundo" era virado às avessas: o diabo andava à solta, a dança e os folguedos tomava conta dos corpos, os mascarados aterrorizavam as pessoas, os homens vestiam-se de mulheres, terminando com a morte do rei. Em Portugal, o entrudo, era essencialmente uma festa de rua que os foliões tomavam de assalto. Uma amostra deste espírito carnavalesco (subversivo e de crítica social) subsiste ainda na cidade de Torres Vedras: O Carnaval inicia-se com a entronização da família real: o rei ( "rei mono", cornudo) e a rainha do sexo masculino. Depois começam os combates e as brincadeiras nas ruas, os desfiles de Zés Pereiras, Cabeçudos, trapalhões, matrafonas, terminando no enterro do entrudo (rei Mono).
Carnaval de Torres Vedras, mantendo a fidelidade às tradições do Entrudo português, por isso, se reclamando, o "mais português de Portugal", caracteriza-se pela participação espontânea dos cidadãos, mesmo nos Corsos organizados. Como afirma um estudioso da etnografia, essa participação "é desejada para a animação do desfile e assim vemos os mais variados foliões nos espaços entre os carros, fazendo a sua festa, exibindo as suas máscaras e facécias, pregando as suas partidas, enquanto simples curiosos, mesmo à paisana, podem ir ao lado dos mascarados" (in José Alberto Sardinha, Tradições Musicais da Estremadura, Tradisom; 2001, p. 199);
A forte carga satírica aos costumes, com uma grande componente de ironia política e social, assumindo, na Tradição do Entrudo português, um palco para a crítica aos "desconcertos do mundo" de tradição popular, é uma das imagens de marca do Carnaval torriense.
Esta fidelidade à matriz cultural do Entrudo português, traduz-se na arruada, na presença de Zés Pereiras e Cabeçudos, nas "matrafonas", no “Enterro do Entrudo”, e em muitas outras manifestações que fazem com que o Carnaval de Torres se reclame, justamente, desde há longos anos, o "Carnaval mais português de Portugal". Mais: é, actualmente, provavelmente, o único Carnaval português de Portugal, assumindo-se como uma forma de resistência à aculturação e de defesa do património cultural nacional.
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